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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

QUEIMADAS DA CANA CAUSAM CANCER NOS TRABALHADORES



THIAGO GUIMARÃES
da Agência Folha


As queimadas em plantações de cana-de-açúcar trazem riscos à saúde dos trabalhadores do setor, por causa de compostos cancerígenos presentes na fumaça liberada no processo de queima.

Estudos da Unesp (Universidade Estadual Paulista) apontaram aumento de HPAs (Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos) --componentes altamente cancerígenos-- no organismo de cortadores de cana e no ar das imediações de canaviais, durante a época de safra da planta.

A queima dos canaviais é prática comum na pré-colheita, para aumentar a produtividade e reduzir riscos de acidentes de trabalho. Na safra, quando cortam cana queimada, os trabalhadores ficam expostos à fumaça da queima. Na entressafra, época de plantio, isso não ocorre.

Pesquisa de doutorado de Rosa Bosso, da Unesp de São José do Rio Preto, analisou a urina de 41 cortadores de cana não-fumantes da região de Catanduva, nos períodos de safra e entressafra. Na safra, o nível de HPAs na urina foi nove vezes maior do que na entressafra.

"Além da respiração, os cortadores de cana podem absorver os compostos por exposição oral ou pela pele, pois costumam almoçar no canavial e a maioria não usa roupa apropriada", afirmou Bosso. O estudo também comparou os dados com um grupo de 21 trabalhadores urbanos, que apresentaram níveis de HPAs na urina próximos aos dos trabalhadores na entressafra.

Doses baixas da urina dos cortadores colhida na safra mataram exemplares da bactéria Salmonella typhimurium, o que indica toxidez. "Essa alta toxicidade das amostras pode sugerir efeitos prejudiciais para o ser humano", disse.

Segundo Bosso, não há estudos que comprovem a relação da exposição aos HPAs com a manifestação de doenças nos trabalhadores, mas pesquisas já demonstraram o aumento de doenças respiratórias em regiões canavieiras no período de queimas. Ela defende a utilização, pelos cortadores, de roupas de proteção como máscaras e luvas, para minimizar a absorção dos compostos.

Outra pesquisa de doutorado, de Mary Marchi, da Unesp de Araraquara, revelou uma maior concentração de HPAs no ar da cidade na época das queimadas. A coleta de amostras foi feita a cerca de 5 km dos canaviais e a 10 km do centro do município.

De acordo com a pesquisadora, não há no Brasil legislação para controle de HPAs no ar. Para Marchi, as pesquisas indicam a necessidade de uma "política de meio ambiente" para esses compostos.

O consultor técnico da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo) Alfred Szwarc afirmou que os HPAs são "subprodutos de qualquer combustão", e que não há evidências científicas sobre danos à saúde causados por eles. Disse inexistirem estatísticas que indiquem maior número de casos de câncer em municípios canavieiros.

Szwarc disse ainda que o estudo de 41 cortadores de cana é uma amostra "muito pequena" para caracterizar um estudo epidemiológico. Afirmou que a Unica reconhece a concentração de HPAs no ar na época da safra, mas que ela pode estar ligada a outros fatores, como o trânsito intenso de caminhões.

O presidente da Fetaesp (Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado de São Paulo), Braz Albertini, disse que as queimadas deveriam ser abolidas, mas sem que isso causasse a demissão de trabalhadores.

Colaborou Rachel Añón, da Agência Folha

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